sábado, 6 de fevereiro de 2010


Quem for incapaz do silêncio é surdo à poesia.
Só no silêncio
do silêncio canta o poema.

Colisão


Amor condusse noi ad una morte


Quando o olhar adivinhando a vida
Prende-se a outro olhar de criatura
O espaço se converte na moldura
O tempo incide incerto sem medida


As mãos que se procuram ficam presas
Os dedos estreitados lembram garras
Da ave de rapina quando agarra
A carne de outras aves indefesas


A pele encontra a pele e se arrepia
Oprime o peito o peito que estremece
O rosto a outro rosto desafia


A carne entrando a carne se consome
Suspira o corpo todo e desfalece
E triste volta a si com sede e fome.


Paulo Mendes Campos

Sem palavras...



Neste soneto, meu amor, eu digo,

Um pouco à moda de Tomás Gonzaga,
Que muita coisa bela o verso indaga
Mas poucos belos versos eu consigo.
Igual à fonte escassa no deserto,
Minha emoção é muita, a forma, pouca.
Se o verso errado sempre vem-me à boca,
Só no peito vive o verso certo.
Ouço uma voz soprar à frase dura
Umas palavras brandas, entretanto,
Não sei caber as falas de meu canto
Dentro de forma fácil e segura.
E louvo aqui aqueles grandes mestres
Das emoções do céu e das terrestres.

Paulo Mendes Campos